Como foi o Seminário Pandemia e crise capitalista

Evento online recebeu Alysson Mascaro e Mauricio Mulinari para entender momento que atravessamos e o que pode ser construído para o futuro

Nesta segunda, 06, o escritório SLPG Advogados Associados, que presta Assessoria Jurídica ao SINASEFE Litoral, transmitiu em suas mídias sociais o Seminário virtual ‘Pandemia e Crise: os desafios para a classe trabalhadora e os operadores do direito’.

Com as presenças de Alysson Mascaro, renomado jurista, escritor e professor de direito da USP, e Mauricio Mulinari, economista e assessor sindical do DIEESE e mediação do advogado e fundador do escritório SLPG Advogados Associados Luis Fernando Silva, o evento foi transmitido e está disponível na íntegra nas diferentes plataformas de mídia do escritório de advocacia. O Seminário teve a parceria das Seções do SINASEFE Litoral, IFSC e Videira, além de outras entidades sindicais do funcionalismo público.

Confira abaixo um breve resumo do que foi debatido no evento

Mascaro: “A crise não é excepcional ao capitalismo, a crise é regra”

Em sua manifestação inicial, o professor Alysson Mascaro desenvolveu as ideias que defende em diversas partes de suas últimas publicações – entre elas Crise e pandemia, seu último livro publicado já em meio às medidas de distanciamento social em função do Covid-19.

Na leitura que Mascaro faz da história e do presente capitalista, tendo como base o marxismo histórico-dialético, as crises estão longe de serem indesejáveis dentro do sistema capitalista. Por ter uma lógica fragmentária, seccionada em frações de classe, em grupos de interesse e, ao fim, em indivíduos burgueses, o capitalismo gera crises a partir da sua própria natureza, está “plantado na crise”, em que os destroços de partes do capital são os ganhos de outras partes.

Para o professor, a crise aprofundada pela pandemia atual leva, como as demais, a um “estado mais perfeito do capitalismo”. O que, na tradição iniciada por Marx em O Capital, significa dizer que o capital torna-se mais concentrado nas mãos de um número menor de indivíduos.

Na avaliação de Mascaro, se enganam aqueles que pensam que estamos já no limite, no ‘fundo do poço’ do Bolsonarismo tanto em termos políticos quanto econômicos. Ainda assim, ressalva que não há correlação direta, mecânica, entre crise e miséria entre os trabalhadores com a possibilidade de transformação social e ação revolucionária.

Sem disputa ideológica, vanguarda revolucionária, conscientização e práticas efetivas de luta social e aparelhagem comunicacional não há chance de transformação mesmo nos tempos mais sombrios para os trabalhadores.

Mulinari: o fim do pacto social e a guerra de classes declarada

Ao tentar compreender o momento atual, o economista e assessor do DIEESE, fez uma breve retomada da história política do Brasil nas últimas décadas. Para Mulinari, o período entre o fim do primeiro mandato de FHC, a partir de 1997, até o início do primeiro mandato de Dilma Rousseff, em 2012, marca um período de relativa ‘paz social’ no país.

Sem desconsiderar as contradições deste período, Maurício pontua que o direcionamento da economia brasileira para um perfil exportador de matéria-prima, o rebaixamento de preços em itens de consumo das famílias, em conjunto com a instituição de políticas públicas como o Bolsa-Escola (FHC) e seu fortalecimento como Bolsa Família (Lula) e o perfil de administrador do capital que o PT passa a exercer levam a um momento de retração das lutas sociais. Fenômeno que se traduziu em um menor número de greves de trabalhadores neste período em comparação com os anos anteriores e o período subsequente.

Após a crise financeira de 2008, o perfil exportador entra em crise com o rebaixamento dos preços pagos no mercado internacional para a produção brasileira. Tal situação reabre, nos anos seguintes, a disputa entre patrões e empregados, com uma política cada vez mais forte de arrocho salarial e cortes de direitos, o que obriga a classe trabalhadora a retomar, entre a virada de 2012 para 2013, bandeiras de luta e movimentos de greve.

Com o agravamento da crise, os erros da administração Dilma, seu impeachment e as ações de Temer, os trabalhadores chegam a 2018, na avaliação do economista, prontos para ‘mudarem tudo isso que está aí’, mote apresentado pela candidatura Bolsonaro.

Ainda que diante da ilusão de um governo que não vai – e nem tem interesse – de ‘mudar o que está aí’ a favor dos trabalhadores, os trabalhadores se encontram sem organizações que deem conta de defendê-los, num quadro de esgotamento das lideranças sindicais e políticas tradicionais e de união com setores que abarcam inimigos declarados da classe em defesa de pautas genéricas como “a democracia” e “as instituições republicanas”.

Organização local, horizonte revolucionário

Para Mascaro e Mulinari, não basta aos trabalhadores se colocarem como linha auxiliar da direita – ou da esquerda- liberal. É preciso uma ruptura verdadeira com ‘tudo que está aí’ pelo lado dos trabalhadores, organizar-se onde for possível, instituindo como objetivo no horizonte a revolução brasileira.

Mascaro propõe ainda um trabalho de base que compara ao modelo das igrejas neopentecostais. Para ele, passado este período de distanciamento social, é preciso que os diversos sindicatos de uma determinada cidade ou região tenham união para a construção de espaços de formação permanente, dando aos trabalhadores a possibilidade de se reconhecerem cotidianamente, de socializarem e aprofundarem conhecimentos de maneira gradual.

O debate está disponível na íntegra nas plataformas do SLPG Advogados Associados

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