Texto do SINASEFE Nacional –
O Brasil literalmente parou na última sexta-feira (28/04) com a realização da primeira greve geral da classe trabalhadora dos últimos 28 anos – e que, certamente, não será a única greve geral de 2017 a depender da disposição dos trabalhadores para lutar pela manutenção dos seus direitos!
Convocação e pauta
Convocada em 27 de março por nove das principais centrais sindicais do país contra o conjunto de ataques do governo Temer (principalmente as Reformas Previdenciária e Trabalhista e a nova Lei das Terceirizações), o movimentou ganhou adesão de praticamente todos os setores e categorias de trabalhadores do setor público e privado, mostrando o caminho que devemos trilhar para garantir nossas conquistas e ampliar nossos direitos e horizontes de lutas: a unidade.
Parou tudo!
Praticamente nenhum serviço de transporte público (ônibus, BRTs, metrôs, trens e VLTs) funcionou nas capitais brasileiras durante nossa greve geral. Até em alguns aeroportos os voos foram suspensos, total ou parcialmente.
Escolas e universidades, públicas e privadas, cancelaram suas aulas. A maioria dos grandes calçadões de comércio do país também fecharam suas portas.
Mesmo as cidades menores participaram do movimento e tiveram um “dia útil” com todo o contorno de feriado, com pouco ou nenhum movimento em seus comércios e zonas produtivas.
Repercussão, ataques e lições
Todos os veículos da imprensa de massa apressaram-se em dar grande cobertura à greve geral. Desde a madrugada, quando começaram os primeiros protestos com fechamentos de vias e formação de congestionamentos recordes, houve cobertura ao vivo das atividades da greve.
Tentaram, a todo momento, caracterizar a resistência legítima da população em defesa dos seus direitos trabalhistas e previdenciários como “violenta” e “pequenina”. Mas não souberam como justificar que um movimento “minoritário” (como eles nos chamavam) e “pífio” (nas palavras do Ministro da Justiça, Osmar Serraglio) deixou as cidades desertas e ocupou tanto espaço na cobertura jornalística.
Depois vieram, em um primeiro momento, as ofensas e xingamentos do empresário Alexandre Correa, que não deixou de trabalhar na sexta-feira por não depender de transporte público, mas nos deu uma grande lição ao afirmar que a greve lhe causou um prejuízo de R$ 25 mil. Oras, se ele todo dia vai ao trabalho e lucra R$ 25 mil, por que neste dia que ele também foi ao trabalho não lucrou o mesmo? Simples: porque sem trabalhador para produzir para ele, não existe mais-valia e não existe lucro.
Alexandre Correa não produz R$ 25 mil por dia: são os trabalhadores que produzem essa riqueza para ele e deste dia 28/04/2017 aqueles que nos atacam têm medo, principalmente, que descubramos que o nosso verdadeiro poder não está no voto digitado na urna eletrônica a cada dois anos, mas na capacidade de parar a produção a qualquer momento e impedir seus volumosos lucros diários a partir da exploração da nossa força de trabalho.
E em outro momento veio a lição dada pelas Federações de Comércio espalhadas pelo país, que não souberam justificar como um movimento tão “pequenino” e “pífio” realizado por uma “minoria” deixou um prejuízo de aproximadamente R$ 5 bilhões ao setor com apenas 24 horas de paralisação.
Temer, por sua vez, lançou uma Nota Oficial para comentar um movimento restrito a “pequenos grupos”. Como nosso Presidente passou a dar suas opiniões sobre eventos “sem grande relevância”, então podemos esperar uma inundação de textos no site do Planalto comentando jogos amadores de futebol de botão – já que os assuntos sem importância passaram a ter atenção especial do mesmo.
Finalizando esse tópico, cabe afirmar que nenhum dos veículos e figuras públicas que atacaram a greve por ser “minúscula” falaram sobre a última pesquisa de popularidade do Presidente Temer, que se encontra com pífios (dessa vez sem aspas) 4% de aprovação.
Repressão
A Polícia Militar (PM), por sua vez, fez o que estamos acostumados a ver e lamentar: envergonhou o Brasil e rebaixou nossa nota para o próximo ranking mundial de respeito aos direitos humanos.
Agressões e prisões desmedidas e injustificadas contra movimentos e manifestantes pacíficos foram registradas em várias cidades. As mais preocupantes no Rio de Janeiro-RJ, com disparos de muitas bombas e balas de borracha para dispersar um ato de rua que transcorria sem nenhum indício mínimo de desordem – uma bibliotecaria foi gravemente ferida por um dos tiros da PM; e em Goiânia-GO, onde o estudante Mateus Ferreira foi covardemente atingido na cabeça por um golpe de cassetete e encontra-se em estado grave no Hospital de Urgências de Goiânia, porém já sem correr risco de morte.
Ameaças ao direito de greve
Não bastou colocar em tramitação no Congresso projetos que restringem o direito de greve de funcionários públicos. Não bastou o Supremo Tribunal Federal (STF) optar por legislar (que não é sua função) e proibir o direito de greve de servidores civis que trabalham na segurança pública.
Para ser ainda mais contundente no ataque ao direito de greve dos trabalhadores, o Estado precisou que o prefeito da maior cidade do país (João Dória) e o Presidente da República (Michel Temer) afirmassem que o trabalhador que aderisse à greve geral convocada por nove centrais sindicais teria o seu dia de trabalho cortado do pagamento ao final do mês.
O Ministério Público do Trabalho lançou, antes da greve, uma Nota Pública que afirmou que os trabalhadores possuem direito constitucional à greve, contrariando os dois políticos.
E, ao final das contas, dado o sucesso do nosso movimento, vimos que as ameaças deles (STF, Temer, Dória e seus amigos) em nada amedrontaram a população – que cruzaram os braços, faltaram ao trabalho e foram às ruas protestar.
Participação do SINASEFE
O SINASEFE NACIONAL convocou as centrais sindicais ao chamamento da greve geral para a segunda quinzena de abril no final de março. Assim que a greve foi confirmada para o dia 28/04, o SINASEFE direcionou um novo chamado às suas bases, clamando pela adesão e construção do movimento em cada cidade.
Debatida e aprovada sucessivamente em várias das nossas Plenárias Nacionais desde o segundo semestre de 2016, a greve geral se tornou uma das bandeiras do SINASEFE para reversão da atual conjuntura. E sua realização mostrou que nossa análise foi acertada quanto a essa estratégia.
Praticamente toda a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica parou suas atividades na última sexta-feira, havendo inclusive a adesão dos servidores civis das Instituições Militares de Ensino (IFE Militares) ao movimento paredista – enfrentando todo tipo de assédio moral e de práticas antissindicais dos gestores militares dessas instituições.
Confira abaixo o vídeo com a intervenção do coordenador geral do SINASEFE, Fabiano Faria, durante a manifestação da greve geral realizada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília-DF:
Próximos passos
A avaliação do sucesso da greve geral foi uma unanimidade durante as análises de conjuntura feitas na 149ª PLENA do SINASEFE – realizada de 29/04 a 01/05, em Brasília-DF. No fórum, foi aprovada a posição do SINASEFE em participar de um novo movimento paredista nacional da classe trabalhadora.
O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasef) também avaliou a greve geral como vitoriosa em sua última reunião, realizada nesta terça-feira (02/05). Como posicionamento, o Fonasef aprovou por participar de uma nova greve geral a ser convocada pelas centrais sindicais e sugerir uma grande Marcha a Brasília-DF para ocupar o Congresso Nacional durante a paralisação dos trabalhadores.
Nenhum direito a menos é o nosso horizonte de luta nesse momento. A greve geral de 28/04 foi vitoriosa, mas para derrotarmos de vez as reformas neoliberais de Temer precisaremos fortalecer e repetir o movimento quantas vezes forem necessárias.
De um lado o nosso ilegítimo Presidente diz que a greve não o incomodou e que as contrarreformas seguirão o seu curso no Congresso Nacional. Do outro lado estamos nós com uma pergunta a fazê-lo: se não o incomodou, quantas dessas Temer e os seus 4% de aprovação serão capazes de suportar?
Vamos às lutas que apenas elas podem mudar para melhor as nossas vidas!
Texto do SINASEFE Nacional – Publicado por Mario Junior