Munição de retrocessos [EDUC>ação]

A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições abriu um novo momento político no Brasil. O cenário ao fim da ditadura foi marcado pelo acordo entre os governantes e a oposição legalizada, com vistas a garantir uma transição lenta e segura, em resposta aos anseios que vinham das ruas na defesa de eleições diretas e de liberdades democráticas. Nessas últimas décadas, as disputas políticas foram marcadas por eleições que colocaram a disputa entre um bloco representante do projeto neoliberal, hegemonizado pelo PSDB, e outro representado por um campo progressista amplo, cuja direção política coube ao PT.

Em 2013, as mobilizações de rua mostraram não apenas uma extrema fragmentação das esquerdas e dos movimentos sociais como o fim da hegemonia do PT. Três anos depois, a derrubada de Dilma colocou fim a governos que tentavam equilibrar os interesses do grande capital com as demandas das populações mais pauperizadas. No final do governo Dilma foram aplicadas medidas de ataques a direitos dos trabalhadores e implementado um drástico contingenciamento orçamentário. Essas ações de Dilma redundaram no “teto de gastos” de Temer, que também deu seguimento a outras propostas gestadas pelos governos do PT, como as reformas do ensino médio e a da previdência.

Com Bolsonaro na presidência, o cenário coloca um aprofundamento das medidas iniciadas por Temer. Paulo Guedes, chefe econômico do governo, tem como prioridade a diminuição dos gastos públicos e a privatização de empresas e serviços. Os ataques aos direitos dos trabalhadores devem se aprofundar, caminhando para o arrocho salarial e uma violenta mudança na previdência. Na lógica do novo governo, os serviços devem ser ou realizados em parceria com o setor privado ou totalmente privatizados.

Charge: Rafael Balbueno/SINASEFE Litoral
Charge: Rafael Balbueno/SINASEFE Litoral

Na educação, deve ser mantida a hegemonia dos grupos educacionais privados que há anos vem fazendo lobby junto ao MEC e ao Conselho Nacional de Educação. O pacote de Bolsonaro inclui não apenas o Escola Sem Partido, que pretende assediar e amordaçar os educadores nas escolas. Mas também a educação à distância, a cobrança de mensalidades nas universidades e até mesmo parcerias com igrejas na oferta de educação infantil.

Para os trabalhadores não resta outra saída que não seja organizar a resistência contra os duros ataques que virão. Os principais métodos de luta construídos ao longo de séculos – greves, piquetes, mobilizações de rua, entre outros – deverão estar no centro da ação dos trabalhadores, que precisam fortalecer em cada local de trabalho os seus sindicatos.

Infelizmente, nos últimos anos, ao longo dos governos do PT e depois com a atenção completamente voltada para a eleição, as principais direções abriram mão de organizar os trabalhadores pela base e na luta por transformações reais na sociedade. Lutas fundamentais, como o combate às reformas trabalhista e da previdência, foram atreladas aos interesses eleitorais de um partido que, quando esteve no governo, também atacou a previdência e os direitos dos trabalhadores.

Para derrotar Bolsonaro, os trabalhadores precisam ter confiança em suas próprias forças e superar os limites das principais direções sindicais, inclusive passando por cima, caso preciso. Para os trabalhadores em educação, é urgente a unidade permanente entre todos os segmentos nas universidades e institutos federais, das prefeituras e dos estados, bem como com os estudantes. Os trabalhadores precisam se organizar em seus locais de trabalho, se informando, estudando, construindo coletivamente as formas de resistência a um governo que nos coloca como seus principais inimigos.


Leia também:

Organizar para avançar

O que marcou 2018 – Retrospectiva

Educação enfrenta pressão conservadora no país

Em defesa dos Institutos Federais e da Educação Pública


Este texto integra a edição número 5 (virada de ano 2018-2019) do boletim EDUC>ação, publicação bimestral do SINASEFE Litoral que traz em suas páginas temas que aproximam os atos de educar e agir, partes fundamentais do trabalho de filiados e filiadas à Seção e, também, de todos que desejam uma sociedade mais solidária, justa e igualitária.

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.