Possivelmente a principal marca do primeiro ano do governo Bolsonaro é a de ataques contra os trabalhadores. O conjunto das principais ações do governo dá continuidade aos ataques iniciados nos governos anteriores, aprofundando medidas do interesse da burguesia e do capital financeiro, como o bloqueio de orçamento e um programa de privatizações de estatais, que logo deve afetar os Correios.
O principal ataque promovido pelo governo foi a Reforma da Previdência. Exigida pela classe dominante desde pelo menos o governo Dilma, a reforma aprovada não apenas criou dificuldades para a aposentadoria dos trabalhadores, por meio de critérios de idade e de tempo de contribuição, como aumentou a contribuição. Nem mesmo a aposentadoria especial escapou disso, como no caso dos professores.
Além disso, no que se refere aos servidores públicos federais, são discutidas medidas que devem reestruturar as carreiras, nivelando por baixo os salários, e bloquear reajustes salariais e progressões.
Na educação, o centro dos ataques do governo passou pelo sufocamento orçamentário das instituições de ensino. Durante todo o ano, universidades e institutos federais sofreram, primeiro, com a liberação lenta e gradual de recursos e, a partir de maio, com o bloqueio de parte de seus orçamentos. Além disso, o obscurantismo ideológico esteve sempre presente na retórica
do governo, atacando de forma leviana as universidades e difundindo teorias como a do terraplanismo e outras aberrações.
No momento em que cada instituição de ensino avaliava o impacto dos bloqueios e cortes, se vendo obrigada a hierarquizar suas ações para evitar sua completa paralisação, o governo lançou o Future-se. O programa propunha facilitar a entrada de capital privado nas instituições de ensino, por meio da atuação de organizações sociais e fundações de apoio.
Em meio ao caos instalado pelo bloqueio do orçamento, o governo tentava cooptar parte da comunidade acadêmica e dos gestores para um programa que significaria um salto em falso na privatização em curso.
Os estudantes foram o principal polo de resistência a esses ataques, promovendo mobilizações e dias de luta em todo o país ao longo do ano. Em algumas instituições houve inclusive greves, como na UFSC, e ocupações, como na Universidade Federal da Fronteira Sul, contra a nomeação de um interventor como Reitor, desrespeitando o resultado da consulta feita à comunidade.
Os sindicatos participaram de algumas dessas mobilizações, convocaram dias nacionais de luta, mas esses se limitaram a atos centralizados em capitais ou grandes cidades. Não houve por parte das centrais sindicais a construção de uma greve geral ou da organização por locais de trabalho.
No IFC, o principal acontecimento nos últimos meses foi o processo eleitoral para a Reitoria, direções de campi e colegiados superiores, tendo como pano de fundo os impactos dos cortes e o debate sobre o então recém-lançado Future-se. Nesse processo colocou-se a necessidade de rediscutir ações nocivas tomadas pela gestão nos anos anteriores, como o processo de implantação do ponto eletrônico e a redução da flexibilização para os técnico-administrativos.
Por outro lado, diante dos ataques do governo Bolsonaro, coloca-se para o grupo que permanecerá na gestão cada vez mais a necessidade de posicionar-se de forma firme contra essas medidas e a necessidade de garantir espaços de diálogo e a autonomia na mobilização.
O SINASEFE vem se somando às tentativas de construção de novas alternativas, buscando a unidade com outros sindicatos e movimentos sociais. Nessa questão foi fundamental a saída da Conlutas, aprovada no recente Congresso do Sindicato Nacional, e a postura de construir ou fortalecer novas alternativas. Esse processo pode ser central para construir um amplo movimento para derrotar as políticas de Bolsonaro.
Nossa Voz publicado na edição 10 (virada do ano 2019-2020) do EDUC>ação