Seminário em Alagoas debateu desafios da Educação

Promovido pelo SINTIETFAL, seção local do SINASEFE no IFAL, evento abordou a educação profissional e tecnológica na rede federal de ensino a partir de perspectivas diversas.

Foto: Comunicação/SINTIETFAL
Foto: Comunicação/SINTIETFAL

Carreira docente e TAE nos IFs, a reforma do Ensino Médio e a privatização da educação, censura na sala de aula e o movimento “escola sem partido”. Estes foram alguns dos temas discutidos entre a quinta-feira, 17 e o último sábado, 19, durante o I Seminário de Educação Profissional e Tecnológica do SINTIETFAL, que ocorreu na cidade de Maceió e teve como tema “Os rumos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica na atual conjuntura”.

Confira abaixo um resumo das atividades do evento.

Seminario EPT SINTIETFAL dia 1

1º dia – lançamento de livro e palestra com Gaudêncio Frigotto

Na primeira noite de evento, a palestra e o lançamento de um livro organizado por Gaudêncio Frigotto, um dos maiores nomes no debate da educação no país e atualmente professor associado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, deram início às discussões do Seminário.

Lançando em Alagoas o livro “Escola ‘sem partido’: a esfinge que ameaça a educação e a democracia” e tendo como tema de sua palestra a conjuntura do país e o futuro da rede profissional e tecnológica, Frigotto trouxe diversos apontamentos sobre a reforma do Ensino Médio e o diálogo que o modelo atualmente proposto tem com outros projetos do passado.

Para o professor, a reforma tem como meta extinguir o ensino integrado e destruir os Institutos Federais. Em paralelo com outras mudanças, como a Emenda Constitucional 95, que congela por vinte anos os investimentos no setor público, a reforma pode em pouco tempo colocar o próprio modelo dos Institutos em questão diante de outros formatos como, por exemplo, o tecnicismo do chamado “sistema S” (SENAI, SENAC, entre outros).

Frigotto durante palestra no primeiro dia de Seminário. Foto: Comunicação/SINTIET/FAL
Frigotto durante palestra no primeiro dia de Seminário. Foto: Comunicação/SINTIET/FAL

Se por um lado há o risco econômico-financeiro, Frigotto tratou também dos riscos políticos e sociais de projetos como o Escola ‘Sem Partido’, tema do livro organizado por ele. Para o professor, movimentos como esses levam adiante a política do medo, que se alimenta de situações como o extremo individualismo existente para espalhar o ódio contra o diferente.

Diante deste quadro a saída precisa ser coletiva, com soluções que visem ampliar o debate democrático e aproximem professores e pais na defesa da alteridade e da liberdade para ensinar e aprender, sem tabus e demagogia.

O livro organizado por Frigotto está disponível na íntegra em formato digital aqui.

2º dia – debate de gênero, carreiras, reforma do Ensino Médio e políticas de pesquisa e extensão

A sexta, 18, foi o dia com mais atividades do Seminário. Com uma programação iniciando de manhã e indo até a noite, foram vários os temas debatidos.

Manhã

As palestras sobre relações de gênero no contexto da educação e carreira de docentes e técnicos dos Institutos Federais foram condensadas em uma única mesa no período da manhã. A assistente social do IFMG, Estelamaris Borges Cunha, tratou do primeiro tema, fazendo uma retomada histórica do debate de gênero no mundo em vista do domínio patriarcal dos dias atuais.

Cunha pontuou que a relação que estabelece o gênero masculino como central não é natural, mas fruto de uma construção social baseada na submissão violenta de outros modos de vida. Sendo assim, descontruir essa relação, o “patriarcado”, deve ser missão dos que acreditam na superação das desigualdades no mundo e em saídas para uma sociedade mais equilibrada.

A professora do IFPE Jane Miranda Ventura e a TAE do IFAL Marília Souto completaram a mesa de debatedoras femininas para tratar dos desafios às carreiras tanto para docentes como para TAEs nos Institutos. As duas apontaram as alterações recentes e as mudanças planejadas pelo atual governo como riscos à carreira nos IFs.

Para os docentes, o tema da progressão é um dos maiores desafios. Além disso, as medidas de enxugamento e corte nos investimentos em educação – como a já citada EC 95- tem potencial ainda mais destruidor. A tendência, explicou Ventura, é aumentar a carência de docentes especialmente nos Campi que já apresentam esse problema. Com isso, o acúmulo de horas aula pode ser ainda maior, tirando o professor de áreas como a pesquisa e a extensão.

Já a técnica-administrativa Marília Souto tratou dos desafios para este segmento. A mudança na carreira promovida pelo governo de Temer, que deslegitimou o PCCTAE, plano de carreira de 2005, em detrimento do modelo de carreira criado ainda nos anos 70 é o maior golpe contra o segmento TAE. Além disso, a extinção e subsequente terceirização de mais atividades que eram exercidas por técnicos concursados representou aumento da privatização de recursos e queda na qualidade do serviço.

Seminario EPT SINTIETFAL manha do dia 2

Tarde

Composta por Georgia Cêa, professora da UFAL e palestrante principal da Mesa, Cledilma Costa, Ana Luíza Porto e Carlos Marcelo, professores do IFAL, o tema da mesa da tarde de sexta foi especificamente a Reforma do Ensino Médio e a Rede Federal.

Para Georgia, a MP 746 que altera o Ensino Médio precisa ser encarada como uma “antirreforma”. “É muito mais do que uma contrarreforma, ela é uma antirreforma, porque não só piora o que havia, mas destrói o que havia. Não é um ajuste no que há, é uma destruição do que há e a instauração do ensino novo, novo porque é completamente diferente. Por conta disso, todas as etapas da educação vão sofrer”, afirmou.

Para a professora, um dos aspectos mais nefastos da MP é que ela impõe um limite de horas para a aprendizagem, algo inédito na educação do país. “A reforma impede a classe trabalhadora de ir além, limita um máximo de horas e conteúdos. Impõem um limite de tempo para a apropriação do básico, não coloca uma carga horária mínima para esse básico, mas um limite. É assustador, como se dissesse ‘é proibido aprender mais do que isso'”.

Noite

Finalizando o dia, a terceira atividade de sexta teve como tema a Tecnologia Social na Pesquisa e na Extensão nos Institutos Federais. Contando com movimentos sociais e servidores que atuam junto a eles, a Mesa serviu para refletir sobre a função social dos Institutos Federais e sua atuação junto aos movimentos sociais, indígenas e quilombolas, citando especialmente como isso se desenvolve em Alagoas.

Fábio Bezerra (Retep-MG), Claudemir Martins (IFAL), Carlos Lima (CPT), Eliane Silva e Sil Pinheiro (MLST) e Manoel Oliveira (Conac) compuseram o debate. Claudemir, diretor do Sintietfal, questionou o modelo de pesquisa e extensão que se busca ter ao lado do ensino nos Institutos. “Muito se fala no tripé ensino-pesquisa-extensão, mas é preciso sempre se perguntar que extensão, qual pesquisa e para quem? Qual o ensino, pesquisa e extensão a gente busca nesse tripé?”.

Seminario EPT SINTIETFAL dia 3

Palestra com Professora Maria Ciavatta encerrou Seminário

Na manhã de sábado, a palestra “Perspectivas para o Ensino Médio Integrado no Contexto do Estado de Exceção no Brasil”, proferida pela professora e pesquisadora em Trabalho e Educação Maria Ciavatta fechou o evento.

A pesquisadora defendeu o método marxista para análise da realidade, tendo como ponto de partida os conceitos da crítica à economia política e da história como produção social da existência.

Em um diálogo entre teóricos que auxiliam a compreender nosso tempo e os fatos da realidade que demonstram algumas de suas conclusões, Ciavatta fisgou a atenção do auditório formado por servidores do IFAL e de outros Institutos Federais, além de estudantes que, em plena manhã de sábado, vieram ouvir suas reflexões.

Por um lado, os estudos teóricos ajudam a compreender nossa realidade, como aqueles do francês Guy Debord e seu conceito de “sociedade do espetáculo” e do italiano Giorgio Agamben e a ideia de “Estado de Exceção” virando regra por todo o mundo.

Outra reflexão teórica, sobre como o modelo neoliberal promove uma incapacidade “politicamente programada” para não prover serviços públicos de qualidade dialoga inteiramente com medidas como a EC 95 e o congelamento de gastos, que amplifica a privatização ao destruir por dentro o sistema público.

Nesse cenário, a professora apontou a importância de defender os Institutos Federais e sua proposta de ensino integrado e resistir à reforma do Ensino Médio. “No Brasil, que escolas são melhores que os Institutos Federais e as Escolas de Aplicação? Agora, mais do que nunca, a gente tem que lutar com unhas e dentes para preservá-los”, afirmou.

Participantes SINASEFE Litoral Seminario EPT

Representantes da Seção Litoral retornam vislumbrando construção de Seminário em SC

A delegação do SINASEFE Litoral que participou do Seminário retornou com planos para promover um espaço parecido no futuro. A impressão que o Seminário deixou foi que os temas debatidos, que envolveram aspectos diversos dos Institutos Federais, sua realidade e os riscos que os cercam, são essenciais para conscientizar servidores e a comunidade sobre o momento que vivemos.

A comitiva, formada por Débora Claudiano, Deivis Frainer, Flávia Walter, Luciana Colussi e Rúbia Sagaz, promete propor a construção de evento semelhante em Santa Catarina na próxima assembleia da categoria, ainda sem data definida.

Professora Maria Ciavatta, durante último dia de Seminário. Foto: Comunicação/SINTIETFAL
Professora Maria Ciavatta, durante último dia de Seminário. Foto: Comunicação/SINTIETFAL

Confira a cobertura do evento realizada pelo SINTIETFAL

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Com chave de ouro, professora Ciavatta encerra Seminário EPT do Sintietfal

EM BREVE: vídeos das Mesas, disponÍveis no perfil de Youtube do SINTIETFAL

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